domingo, 26 de junho de 2011

Sobre o quixotismo...

Romantismo.

Acredito que sou romântico. Não no sentido adotado hoje em dia para o cara que é carinhoso, atencioso e outros adjetivos em relações amorosas. Não, de fato. Quanto a esse quesito costumo à desejar às vezes.
Sou romântico no sentido de segurar um ideal, proteger minhas ideias acima de tudo. Enfim, temos o ponto positivo e a parte negativa, mas isso é conversa para outro texto.
Venho aqui para dizer que falta romantismo hoje. Poucas são as pessoas que batalham pelo que sonham e acreditam ser melhor para ela mesma ou para terceiros.
Um fidalgo do interior da Espanha tinha, em sua biblioteca, volumes e volumes de livros sobre cavalaria. Esta era sua paixão.. as histórias de cavaleiros errantes na Europa, procurando e completando aventuras em todas as partes, magos e feiticeiros, gigantes, dragões, princesas, reis e rainhas, diques e duquesas, reinados e glórias. Para esse fidalgo os valores estavam confundidos, a época passada deveria predominar pois naquela os cavaleiros errantes impunham a justiça e a benevolência, protegiam os pobres e desvalorizados na sociedade, atendiam a pedidos de donzelas que se encontravam em algum problema maior, salvavam reinados de destruições e matavam dragões se gigantes.
Então, esse fidalgo que morava na Mancha ( condado da Espanha) decide pegar as armaduras que dispunha, uma lança e seu pangaré esquelético e denomina-se como Dom Quixote de La Mancha. Nasce aqui a figura literária com o coração mais puro que até do que o próprio Cristo. O nosso cavaleiro tenta, então, consertar o Mundo em que vive. Após sua primeira empreitada pelos arredores da Mancha, retorna ao seu povoado e convence um morador a sair Espanha a fora, pregando os valores de cavalaria, ordem e justiça prometendo, ainda, dar uma ilha para esse seu escudeiro. Agora, a dupla Dom Quixote e Sancho Pança nasce.

A primeira aventura feita pela dupla ocorreu próximo do condado da Mancha. A celebre aventura dos moinhos-de-vento. Para nosso heroi, aqueles moinhos eram, na verdade, gigantes. Então, com a maior coragem que conseguiu em seu peito, sem nenhum medo enfrentou os moinhos-de-vento que para o Homem de La Mancha eram gigantes. Não sou crítico literário mas creio que a figura dos moinhos que foram vistos como gigantes nos da a interpretação de que são os problemas de nossa vida. Dom Quixote enfrentou-os sem nenhum medo. Apenas com seu romantismo.
Algo que deve ficar bem claro, também, é a presença de Dúlcineia de Toboso. A presença dela não é nada mais do que o próprio amor de Dom Quixote... não o amor por uma mulher, mas o amor por aquilo que ele faz, aquilo que ele prega na figura de uma mulher. O ex-fidalgo nunca viu Dulcineia, aliás, Dulcineia nem tinha esse nome. A moça era uma camponesa de um condado vizinho ( muito feia, segundo Sancho Pança) que, Dom Quixote, seguindo as regras dos cavaleiros ( que para ser um cavaleiro errante o mesmo deve ter uma princesa ou donzela para glorificá-la quando conquistar os objetivos de suas aventuras). Assim sendo, ele cria a perfeita Dulcineia de Toboso, a donzela mais linda de toda a Espanha senão de todo o Mundo, mesmo sem nunca tendo visto a mesma.
Em suas andanças pelo país, as pessoas que conhecem a dupla os acham idiotas, loucos e entre outras coisas, até o próprio Sancho acredita que seu mestre é louco, porém continua a acompanha-lo para conseguir ser o governador de sua Ilha.
Sancho é tão importante quanto Dom Quixote no romance. Sancho é um homem simples, católico e analfabeto. Durante toda o romance até ele, finalmente, conseguir ser governador de um condado ( que ele, piamente, falava que era uma ilha) fala coisas estúpidas e simples seguidas de rios e rios de provérbios. Um homem simples, que não é estudado, não sabe nada de política, apenas quer comer, beber e ter luxo. O homem que chamava seu mestre de louco, continua a chamá-lo, porém, fica evidente que Sancho compra da loucura de Quixote. Sancho ( assim como seu mestre) começa a atribuir os erros e danos das aventuras às magias de feiticeiros.
Acredito que Dom Quixote não era louco. Após uma aventura, Dom Quixote e Sancho Panza encontram um Duque e uma Duquesa. O casal sabia da história do heroi ( no romance, a história de Dom Quixote foi contada em livros por toda a Espanha com o título de " O ingênuo senhor Dom Quixote de La Mancha") e, deste modo, fez com que os seus criados recebessem a dupla como fossem, realmente, grandes herois medievais, etc. Talheres de ouro, regalias, luxo, banquetes enormes, bebidas à vontade, músicas, poemas em honra ao cavaleiro errante e várias outras coisas dignas de um heroi. Após tanto luxo e condecoração, o autor diz algo semelhante a isso:
"E, pela primeira vez, o nosso valente heroi acreditou que era um cavaleiro errante."
Dom Quixote não era louco. Como eu disse, ele só lutava por aquilo que acreditava ser certo e justo. Ele daria sua vida por aquilo que acreditava e pregava. Tanto que após de tantas batalhas e sofrimento, Sancho atribuiu o título de " O Cavaleiro da Triste Figura" para seu mestre, e, em outra passagem, após "enfrentar" um leão que era endereçado ao Rei, Sancho o nomeou de " Cavaleiro dos Leões". Se lutar pelos seus ideais é loucura, então me chamem, a partir de agora, de Dom Quixote.

Um comentário:

  1. Há muitas metáforas nessa obra de Miguel de Cervantes...
    E a luta por um ideal é necessária para manter-nos apegados ao mundo e a realidade.
    O mundo dos livros é uma válvula de escape para toda a incerteza e insegurança que envolve o ser humano.
    Mesmo não sendo um crítico literário, você avaliou bem uma obra tão simbólica...

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